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Jornada

Quaisquer fossem as suas inspirações para chegar até aqui, quaisquer fossem as forças interiores e anteriores que o regiam até esse momento fatal, não havia nada que houvesse preparado-o para as experiências que vinha tendo somadas àquelas que viria a ter. A vertigem da eternidade, o silêncio do eterno, o frio da solidão, todos eles se misturavam em uma amalgama que confundia sonho e realidade, expectativa e medo, incerteza e rotina. Já não havia mais pedra para se agarrar. Os portos quase todos ruíram, as ilhas submergiram frente aos temporais que assolavam a terra naquele período. Um ou outro farol brilhava, longínquo, fosco, tão distante que não era possível distingui-lo de uma remota miragem, que, por força do desejo, se põe no horizonte, sem compromisso de se tornar verdade. Agora eu boiava. Já não me debatia mais contra as ondas. Tentava só manter o rosto fora d'água. Respirar. A respiração, como já ensinavam os antigos iogues, é a fronteira entre o consciente e o incons

Sorte

      Faziam anos que aquele barco havia partido daquele mesmo porto. Ele olhava o horizonte, misterioso tal qual o destino dela, que provavelmente jamais voltaria a atracar naquele cais. Ninguém havia.       Quem sabe havia naufragado durante a viagem, ou talvez se esposado de um homem rico, ou virado escrava no meio do caminho.      O aperto da dúvida, que reside no coração, ao ter nenhuma ideia sobre onde o grande amor reside nesta terra, faz o destino da cólera, ou qualquer outra peste de morte rápida, parecer palatável.      Buscar na terra, olhando dos céus, aquela que povoa os sonhos acordados.

Audiência pública Lei 14266 (sobre o sistema cicloviário)

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Na última quarta-feira (21/09/2011), foi realizada a audiência pública relacionada a criação, implementação e gestão do sistema cicloviário (leia-se ciclofaixas, ciclo rotas, ciclovias e outros sistemas de apoio aos modais ciclísticos). Entre os presentes estavam, o proponente da alteração da lei Ver. Chico Macena, representantes de algumas instituições relacionadas, como o Ciclocidade, e pessoas avulsas interessadas no assunto (como eu). Vereador ao lado da ex-vereadora Soninha A lei original foi criada ainda em 2002, em versão relativamente rudimentar. Ela evoluiu para a lei feita em 6 de fevereiro de 2007, e, agora, passa por mais uma bem vinda reforma. A ideia da lei como um todo é a inclusão efetiva da bicicleta no plano de mobilidade de São Paulo, visto que essa pode desempenhar um papel fundamental no desafogamento da cidade. Isso implicado na mudança de um paradigma  que vem sendo adotado pelo poder público, transferindo o papel da bicicleta do lazer para o

O RIO

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Todos sabemos da sua existência, porém será que nos damos conta do gigante que escoa todos os dias pela cidade? A terra, assim como o humano, é um organismo. Possui diferentes biomas, com distintas funções em um conjunto mais amplo. Os rios, são veias, transportam os nutrientes por milhares de quilômetros, e por onde passam trazem consigo a possibilidade de vida, tanto para os seres humanos quanto para a grande maioria das espécies vegetais e animais no planeta. Nossos rios não são diferentes, suas margens ainda são verdejantes em muitos trechos, suas bordas ainda abrigam capivaras e garças. Nós nos recusamos a olhar para esses monumentos, patrimônios da cidade de São Paulo, como algo passível do mínimo respeito que se resguarda a exuberante natureza inerente a nossa região. Eles continuam, vagarosos e humildes, aceitando todo tipo de ultraje, continuarão depois que nós nos formos, continuaram antes que viéssemos. Não há mais desculpa para a situação atual. Há quem diga que a lim

VOTO DISTRITAL

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O RETRABALHO SOCIAL

                Construímos uma sociedade, ou melhor, estamos a construí-la. Os desafios monumentais que se colocam a frente de cada cidadão ou instituição no momento de fazer e propor mudanças não são triviais, porém noto que, às vezes, maior ainda do que os obstáculos anteriores são as dificuldades relacionadas à força de vontade e pró atividade em cada um de nós.                Vejo que o trabalho social, ou seja, o trabalho para a sociedade, fica muito atrás do trabalho pessoal, em detrimento de questões ainda obscuras da psique humana. No entanto, e aí que fica o cerne da questão, há um imenso paradoxo entre viver em sociedade e trabalhar apenas para si mesmo.                O paradoxo não se trata de egoísmo ou mesmo idiotice (no sentido original grego da palavra), se trata da inescapável realidade que, só se tem qualidade de vida, quando a necessidade basal da grande maioria no entorno é satisfeita.                O fascinante dos paradoxos reais é que eles de fato existem e pe

CHILLING TURTLE

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